Quem conta um conto, aumenta um ponto #3


Once Upon a Time 
Queen Hady

 (Conto postado no NYAH)

Vamos começar essa história com Era uma vez... Afinal é assim que todos os contos de fadas começam, não?
Ok! Então lá vamos nós.
Era uma vez uma menina triste, num mundo triste que via o mundo através da janela de seu quarto e era por essa mesma janela que ela imaginava um mundo muito além daquelas quatro paredes. Era por aquela janela que entravam e saiam seus sonhos.
Seu nome era Estela, tal como as estrelas, costumava dizer sua mãe. “Você é minha pequena estrelinha” e então depositava um beijo em sua testa e a cobria para o inicio da noite.
Estela costumava sonhar e imaginar.
Sonhava que correria por entre os planetas tendo as estrelas como suas amigas e acostumavam apostar corridas usando cometas. Pulava de um planeta para outro como se fosse pula-pula e o universo seu grande parque de diversões. Quando tinha fome as estrelas lhe traziam um torrão de açúcar, pão e um copo de leite.
Imaginava que seu cobertor na verdade era um grande manto de feito com pedaços do céu e seu travesseiro era a lua. Para iluminar a escuridão havia as estrelas sempre brilhando por cima de sua cabeça.
Seu corpo estava preso naquela cama, imóvel como uma pedra, incapaz de atender aos seus chamados para sair e brincar. Suas pernas não lhe obedeciam, teimosas elas pareciam não escutar quando ela as ordenava para se mexer.
Sentia falta de correr e brincar com as outras crianças, ás vezes ficava furiosa e queria brigar com o mundo. Tinha chorado tanto de início após o acidente. Quis usar suas pernas para sair correndo para longe daquelas paredes brancas, longe de tudo... Mas estava presa a sua cama.
Chorou por muitas e muitas noites, até que já não tinha mais forças nem mesmo para isso. Recusava-se a comer, falar... Era como um zumbi.
Tinha apenas dez anos. Queria ser como qualquer outra garota. Queria ir à escola, pentear, sozinha, seus próprios cabelos. Queria ir até a cozinha e comer com seus pais e não comer sozinha no quarto.
Queria correr até ficar sem fôlego porque poderia voltar a respirar sozinha depois. Mas agora até para respirar precisava daquelas estranhas máquinas a sua volta.
Queria crescer e ser convidada para um baile, então quando ela descesse as escadas com um lindo vestido ele olharia para ela e diria que ela estava linda. Seus pais tiraram milhares de fotos e naquela noite ela daria seu primeiro beijo.
Mas ela tinha perdido tudo isso. E era tão triste.
Foi quando ouviu uma noite sua mãe chorando baixinho atrás da porta de seu quarto, ela não queria que sua mãe chorasse, não queria que ela sofresse. E então tinha obrigado a si mesma a sorrir, comer e falar – mesmo com dificuldade – porque queria ouvir sua mãe e seu pai sorrirem felizes novamente.
Não havia lhe sobrado muitas coisas, do mundo lá fora então... Tudo que havia restado era a imagem vista por sua janela, mas era aquela janela que lhe permitia sonhar e imaginar.
Suas pernas e corpo não lhe obedeciam, mas sua imaginação estava mais viva do que antes. Poderia imaginar o que quisesse.
Poderia ser uma feroz guerreira de um reino mágico e combater um grande dragão que não passava de uma árvore que observava pela janela. Poderia ser uma princesa presa a uma torre esperando que algum príncipe subisse até seu quarto e lhe despertasse com um beijo a resgatando e a levando para longe dali.
Poderia imaginar suntuosos jantares em que criaturas mágicas do mundo todo se sentavam a mesa para comer junto dela.
Ás vezes ela ficava acordada por horas à noite olhando as estrelas e se imaginando lá... Junto delas. Brincando para sempre no universo. E ela sorria. Queria ser uma estrela.
Em seus sonhos as estrelas eram garotas como ela. Que também queria brincar, rir e se divertir.
Não havia limites para sua imaginação. Não havia obstáculos que não poderia transpor.
E assim se passavam as horas, os dias, as semanas, os meses. Através daquela janela seus sonhos eram alimentados, sua criatividade crescia.
Uma noite ela imaginou que tinha finalmente virado uma estrela. Ficou assustada de inicio, queria voltar para seu pai e sua mãe, para a Bisa que sempre vinha lhe visitar mesmo com as pernas cansadas e o corpo pesado pelo tempo.
Então uma estrela lhe estendeu uma das mãos e apontou em direção ao horizonte e ela sabia que papai e mamãe ficariam bem... Ela nunca se esqueceria deles e sabia que nem eles a ela.
Rindo aceitou a mão que lhe era oferecida e cavalgou até o pôr do sol.
No dia seguinte quando sua mãe entrou em seu quarto seu coração já não mais batia, mas tinha um sorriso em seus lábios, o olhar fixo no céu.
Ela ficaria bem.

FIM



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